terça-feira, 7 de abril de 2020

Vírus: os inimigos invisíveis

Novo Coronavírus (Imagem FIOCRUZ)

Na antiga Grécia acreditava-se que doenças da humanidade haviam sido trazidas por Pandora, a Eva grega, guardiã de uma certa caixa cujo conteúdo ela desconhecia. Conta a história que certa vez, por curiosidade, Pandora resolveu abrir a caixa e, ao levantar a tampa, deixou escapar todos os males do mundo. Por sorte, o deus Asclépio (também chamado Esculápio, pelos romanos) possuía um bastão com uma cobra enroscada, cujo poder espantava as doenças. No século XVII, por volta de 1630, aconteceram muitos flagelos de doenças infecciosas, como a peste bubônica que voltou a atingir a Europa, causando 86 mil mortes. Esse fato fez com que as pessoas deixassem de acreditar no mito de Pandora e passassem a aceitar a explicação que essas epidemias eram causadas por influência dos astros. Como a astronomia estava em expansão, o físico alemão Johannes Kepler (1571 – 1630), descreveu as leis planetárias e anunciou que a peste era influenciada pelos planetas. Surge então essa nova explicação para a origem das doenças, o movimento dos planetas. É também a partir dessa explicação que surge o termo “Influenza”, a influência dos astros. Por muitos séculos, as doenças foram associadas às crenças e superstições. Porém, com os estudos sobre as células e os microrganismos, diretamente ligados ao aperfeiçoamento do microscópio, esses fatos foram sendo esclarecidos.
Os registros de doenças provocadas por vírus são milenares. Hieróglifos datados de 1400 a.C. no Egito Antigo, indica a existência da poliomielite. Porém, a primeira referência aos vírus foi feita por Louis Pasteur (1822 – 1895) no final do século XIX. Em 1880, na tentativa sem sucesso, de cultivar o agente causador da raiva, Pasteur utilizou o termo vírus, que em latim significa “veneno”. Poucos anos depois, desenvolveu-se a técnica de esterilizar soluções por filtração. Os filtros eram capazes de reter as bactérias, mas deixavam passar alguns agentes patogênicos - microrganismos menores que as bactérias. Em 1892, o botânico Dmitry Ivanovski (1864 – 1920) caracterizou o vírus do mosaico do tabaco (doença comum nas folhas do tabaco). Mas somente em 1899, o botânico Mariunus Willen Beijerinck (1851 – 1931), investigando a mesma doença, descobriu que injetando extratos das folhas de tabaco doente, transmitia para plantas sadias a mesma doença.
No século V a.C., o médico Hipócrates (460-377 a.C.), registrou a ocorrência da caxumba e, possivelmente, da gripe (ou influenza) na ilha de Thasos. Atribui-se a Hipócrates também, o primeiro relato de hepatite benigna. O faraó Ramsés V que morreu por volta de 1500 a.C., sobreviveu à varíola, o que é testemunhado claramente pelas marcas das lesões (pústulas) deixadas em sua pele e preservadas pela mumificação. O vírus da varíola foi pela primeira identificado no ano 570 d.C., por Bishop Marius de Avenches, na Suíça.
As viroses, isto é, doenças causadas por vírus, afetaram em muito o desenvolvimento de civilizações ocidentais e foi uma das grandes pragas ultrapassando a peste negra (causada pela bacteria Yersinia pestis) e a cólera (causada pela bactéria Vibrio cholerae) no seu impacto. Foi também a causadora da queda de alguns impérios. Com o crescimento da agricultura no nordeste africano - Egito e Mesopotâmia, por volta do ano 9000 a.C., houve uma aglomeração das populações humanas, o que permitiu a transmissão da doença de pessoa para pessoa, sendo mais tarde levada por mercadores para a Índia, Ásia e Europa. Em 1350 a.C., a primeira epidemia de varíola    (causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae) ocorreu durante a guerra entre os Egípcios e os Hititas, causando o declínio da civilização Hitita.
Também na China, por volta do ano 1122 a.C., foi descrita uma doença aparentada com a varíola. Em documentos chineses datados do período entre 37 e 653 d.C., há relatos sobre a varíola e também o sarampo e a raiva. Em algumas culturas antigas, a letalidade da doença era tão elevada entre as crianças que só recebiam nome se sobrevivessem à enfermidade.
A doença até então era desconhecida no Novo Mundo e foi introduzida pelos Espanhóis e Portugueses, tornando-se uma espécie de arma biológica que ajudou a provocar a queda dos impérios Asteca e Inca. Estima-se que cerca de 3,5 milhões de Astecas morreram vitimados pela doença num espaço de dois anos. Este enorme declínio populacional foi devido ao fato de as populações indígenas nunca antes terem estado em contato com este agente infeccioso, sendo particularmente suscetíveis a este.
Por conta do aperfeiçoamento do microscópio e com as contribuições da microbiologia e da medicina foi possível identificar patógenos causadores de doenças. Os vírus são extremamente pequenos, suas dimensões estão entre 10 a 300 nanômetro (nm), visíveis apenas ao microscópio eletrônico. Com o desenvolvimento da pesquisa sobre os vírus, foi possível identificar a existência de uma perfeita relação bioquímica entre a natureza molecular de cada tipo de vírus e certos receptores específicos da superfície das células, justificando o tropismo dos vírus por determinados tipos de tecidos. Assim, o vírus da gripe ataca as células das vias respiratórias; o da raiva ataca as células do sistema nervoso; o da caxumba acomete as glândulas salivares parótidas; o da Aids destrói os linfócitos T4 do sistema imunológico.
 Afinal, os vírus são considerados seres vivos ou não?  A estrutura básica de todos os vírus é a mesma, ou seja, não apresentam estrutura celular. O Sistema de Classificação em Cinco Reinos (animal, monera, protista, fungi e plantae) proposto em 1969 pelo zoólogo Robert H. Whittaker (1920-1980), não inclui os vírus já que os mesmos são desprovidos de célula, isto é, não são considerados seres vivos.
Os vírus são dotados de um cerne (miolo) de ácido nucléico (DNA ou RNA), envolto por uma cápsula de proteína denominada capsídeo que, por sua vez, é formada por unidades chamadas capsômeros. Eles podem ter o material genético formado por DNA de fita dupla (DNAfd), DNA de fita única (DNAfu) ou RNA de fita única (RNAfu), mas em nenhum caso, ocorre a presença dos dois ácidos em um mesmo vírus. A reunião do ácido nucléico com o capsídeo forma o nucleocapsídeo do vírion, que é o vírus completo. Porém, pesquisas recentes indicam a existência de um vírus híbrido (com DNA e RNA), o citomegalovírus, que está entre os oito tipos de herpesvírus patogênicos para o homem. Outra característica importante dos vírus é que os mesmos são parasitas   intracelulares obrigatórios, pois por si só não são capazes de reproduzir-se, necessitam de células de seres vivos (animais, plantas, etc.) para sua replicação. Atualmente, uma das mais eficientes medidas preventivas contra as doenças virais  são as vacinas, sendo o mais importante mecanismo utilizado pela medicina preventiva. No entanto, é bom lembrar que as vacinas são específicas para diferentes agentes etiológicos e/ou linhagem.

Adaptado de Biologia Ensino Médio, 2ª edição/Vários Autores. SEED-PR. p.296. Curitiba, 2007.

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