Novo Coronavírus (Imagem FIOCRUZ) |
Na antiga Grécia
acreditava-se que doenças da humanidade haviam sido trazidas por Pandora, a Eva
grega, guardiã de uma certa caixa cujo conteúdo ela desconhecia. Conta a
história que certa vez, por curiosidade, Pandora resolveu abrir a caixa e, ao
levantar a tampa, deixou escapar todos os males do mundo. Por sorte, o deus
Asclépio (também chamado Esculápio, pelos romanos) possuía um bastão com uma
cobra enroscada, cujo poder espantava as doenças. No século XVII, por volta de
1630, aconteceram muitos flagelos de doenças infecciosas, como a peste bubônica
que voltou a atingir a Europa, causando 86 mil mortes. Esse fato fez com que as
pessoas deixassem de acreditar no mito de Pandora e passassem a aceitar a
explicação que essas epidemias eram causadas por influência dos astros. Como a
astronomia estava em expansão, o físico alemão Johannes Kepler (1571 – 1630),
descreveu as leis planetárias e anunciou que a peste era influenciada pelos
planetas. Surge então essa nova explicação para a origem das doenças, o movimento
dos planetas. É também a partir dessa explicação que surge o termo “Influenza”,
a influência dos astros. Por muitos séculos, as doenças foram associadas às
crenças e superstições. Porém, com os estudos sobre as células e os
microrganismos, diretamente ligados ao aperfeiçoamento do microscópio, esses
fatos foram sendo esclarecidos.
Os registros de doenças
provocadas por vírus são milenares. Hieróglifos datados de 1400 a.C. no Egito
Antigo, indica a existência da poliomielite. Porém, a primeira referência aos
vírus foi feita por Louis Pasteur (1822 – 1895) no final do século XIX. Em
1880, na tentativa sem sucesso, de cultivar o agente causador da raiva, Pasteur
utilizou o termo vírus, que em latim significa “veneno”. Poucos anos depois,
desenvolveu-se a técnica de esterilizar soluções por filtração. Os filtros eram
capazes de reter as bactérias, mas deixavam passar alguns agentes patogênicos -
microrganismos menores que as bactérias. Em 1892, o botânico Dmitry Ivanovski
(1864 – 1920) caracterizou o vírus do mosaico do tabaco (doença comum nas
folhas do tabaco). Mas somente em 1899, o botânico Mariunus Willen Beijerinck
(1851 – 1931), investigando a mesma doença, descobriu que injetando extratos
das folhas de tabaco doente, transmitia para plantas sadias a mesma doença.
No século V a.C., o
médico Hipócrates (460-377 a.C.), registrou a ocorrência da caxumba e,
possivelmente, da gripe (ou influenza) na ilha de Thasos. Atribui-se a
Hipócrates também, o primeiro relato de hepatite benigna. O faraó Ramsés V que
morreu por volta de 1500 a.C., sobreviveu à varíola, o que é testemunhado
claramente pelas marcas das lesões (pústulas) deixadas em sua pele e
preservadas pela mumificação. O vírus da varíola foi pela primeira identificado
no ano 570 d.C., por Bishop Marius de Avenches, na Suíça.
As viroses, isto é,
doenças causadas por vírus, afetaram em muito o desenvolvimento de civilizações
ocidentais e foi uma das grandes pragas ultrapassando a peste negra (causada
pela bacteria Yersinia pestis) e a
cólera (causada pela bactéria Vibrio
cholerae) no seu impacto. Foi também a causadora da queda de alguns
impérios. Com o crescimento da agricultura no nordeste africano - Egito e
Mesopotâmia, por volta do ano 9000 a.C., houve uma aglomeração das populações
humanas, o que permitiu a transmissão da doença de pessoa para pessoa, sendo
mais tarde levada por mercadores para a Índia, Ásia e Europa. Em 1350 a.C., a
primeira epidemia de varíola (causada
pelo vírus Orthopoxvirus variolae)
ocorreu durante a guerra entre os Egípcios e os Hititas, causando o declínio da
civilização Hitita.
Também na China, por
volta do ano 1122 a.C., foi descrita uma doença aparentada com a varíola. Em
documentos chineses datados do período entre 37 e 653 d.C., há relatos sobre a
varíola e também o sarampo e a raiva. Em algumas culturas antigas, a letalidade
da doença era tão elevada entre as crianças que só recebiam nome se sobrevivessem
à enfermidade.
A doença até então era
desconhecida no Novo Mundo e foi introduzida pelos Espanhóis e Portugueses,
tornando-se uma espécie de arma biológica que ajudou a provocar a queda dos
impérios Asteca e Inca. Estima-se que cerca de 3,5 milhões de Astecas morreram
vitimados pela doença num espaço de dois anos. Este enorme declínio
populacional foi devido ao fato de as populações indígenas nunca antes terem
estado em contato com este agente infeccioso, sendo particularmente suscetíveis
a este.
Por conta do
aperfeiçoamento do microscópio e com as contribuições da microbiologia e da
medicina foi possível identificar patógenos causadores de doenças. Os vírus são
extremamente pequenos, suas dimensões estão entre 10 a 300 nanômetro (nm),
visíveis apenas ao microscópio eletrônico. Com o desenvolvimento da pesquisa
sobre os vírus, foi possível identificar a existência de uma perfeita relação
bioquímica entre a natureza molecular de cada tipo de vírus e certos receptores
específicos da superfície das células, justificando o tropismo dos vírus por
determinados tipos de tecidos. Assim, o vírus da gripe ataca as células das
vias respiratórias; o da raiva ataca as células do sistema nervoso; o da
caxumba acomete as glândulas salivares parótidas; o da Aids destrói os
linfócitos T4 do sistema imunológico.
Afinal, os vírus são considerados seres vivos
ou não? A estrutura básica de todos os
vírus é a mesma, ou seja, não apresentam estrutura celular. O Sistema de
Classificação em Cinco Reinos (animal, monera, protista, fungi e plantae)
proposto em 1969 pelo zoólogo Robert H. Whittaker (1920-1980), não inclui os
vírus já que os mesmos são desprovidos de célula, isto é, não são considerados
seres vivos.
Os vírus são dotados de
um cerne (miolo) de ácido nucléico (DNA ou RNA), envolto por uma cápsula de
proteína denominada capsídeo que, por sua vez, é formada por unidades chamadas
capsômeros. Eles podem ter o material genético formado por DNA de fita dupla
(DNAfd), DNA de fita única (DNAfu) ou RNA de fita única (RNAfu), mas em nenhum
caso, ocorre a presença dos dois ácidos em um mesmo vírus. A reunião do ácido
nucléico com o capsídeo forma o nucleocapsídeo do vírion, que é o vírus
completo. Porém, pesquisas recentes indicam a existência de um vírus híbrido (com DNA
e RNA), o citomegalovírus, que está entre os oito tipos de herpesvírus
patogênicos para o homem. Outra característica importante dos vírus é que os
mesmos são parasitas intracelulares obrigatórios,
pois por si só não são capazes de reproduzir-se, necessitam de células de seres
vivos (animais, plantas, etc.) para sua replicação. Atualmente, uma das mais eficientes medidas preventivas contra as doenças
virais são as vacinas, sendo o mais
importante mecanismo utilizado pela medicina preventiva. No entanto, é bom
lembrar que as vacinas são específicas para diferentes agentes etiológicos e/ou
linhagem.
Adaptado de Biologia
Ensino Médio, 2ª edição/Vários Autores. SEED-PR. p.296. Curitiba, 2007.
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