Eu sou um professor. Nasci no primeiro momento em que uma
pergunta saltou da boca de uma criança.
Tenho sido muitas pessoas em muitos lugares.
Sou Sócrates, estimulando a juventude de Atenas para
descobrir novas idéias usando perguntas.
Sou Anne Sullivan, tamborilando os segredos do universo
sobre a mão estendida de Helen Keller.
Sou Esopo e Hans Christian Andersen, revelando a verdade por
meio de muitas, muitas estórias.
Sou Darcy Ribeiro, construindo uma universidade a partir do
nada no planalto brasileiro.
Sou Ayrton Senna, que transforma a sua fama de herói
esportista em recursos para educar crianças em seu país.
Sou Anísio Teixeira, na sua luta de democratização da educação
para que todas as crianças brasileiras tenham acesso à escola.
Os nomes daqueles que exerceram minha profissão constituem
uma galeria da fama da humanidade: Buda, Paulo Freire, Confúcio, Montessori,
Emilia Ferreiro, Moisés, Jesus.
Eu sou também aqueles nomes e rostos que já foram
esquecidos, mas cujas lições e cujo caráter serão para sempre lembrados nas
realizações dos que educaram.
Já chorei de alegria em casamentos de ex-alunos, ri de
felicidade pelo nascimento de seus filhos e me quedei de cabeça baixa, em dor e
confusão, junto a sepulturas cavadas cedo demais para corpos jovens demais.
No decorrer de um dia já fui chamado para ser artista,
amigo, enfermeiro, médico, treinador; tive de encontrar objetos perdidos,
emprestar dinheiro, fui motorista de táxi, psicólogo, substituto de pai e mãe,
vendedor, político e guardião da fé.
Apesar de mapas, gráficos, fórmulas, verbos, histórias e
livros, na verdade não tive nada a ensinar aos meus alunos porque o que de fato
o que eles têm de aprender é quem eles são. E eu sei que é preciso um mundo
para ensinar a uma pessoa quem ela é.
Eu sou um paradoxo. Quanto mais escuto, mais alta se faz
ouvir minha voz. Quanto mais estou disposto a receber com simpatia o que vem de
meus alunos, mais tenho para oferecer-lhes.
Riqueza material não faz parte dos meus objetivos, mas eu
sou um caçador de tesouros, dedicado em tempo integral à procura de novas
oportunidades para meus alunos usarem seus talentos e buscando sempre descobrir
seu potencial, às vezes enterrado sob o sentimento do fracasso. Sou o mais
afortunado dos trabalhadores.
Um médico pode trazer uma vida ao mundo num só momento
mágico. A mim é dado cuidar que a vida renasça a cada dia com novas perguntas,
melhores idéias e amizades mais sólidas.
Um arquiteto sabe que, se construir com cuidado, sua
estrutura pode durar séculos. Um professor sabe que, se construir com amor de
verdade, sua obra com certeza durará para sempre.
Sou um guerreiro que luta todos os dias contra a pressão de
colegas, a negatividade, o medo, o conformismo, o preconceito, a ignorância e a
apatia. Mas tenho grandes aliados: a inteligência, a curiosidade, o apoio dos
pais, a individualidade, a criatividade, a fé, o amor e o riso. Todos vêm
reforçar minha trincheira.
E a quem devo agradecer pela vida maravilhosa que tenho
senão a vocês, pais que me honraram ao me confiar seus filhos, que são sua
maior contribuição para a eternidade.
E assim tenho um passado rico em recordações. Tenho um
presente desafiador, cheio de aventuras e alegrias, porque me é dado passar
todos os meus dias com o futuro.
Sou um professor e
agradeço a Deus por isso, todos os dias.
John W. Schlatter (ex-professor norte americano)
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