sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Jeca Tatu e a Ancilostomose

Em 1914, Monteiro Lobato, fazendeiro no interior de São Paulo, curvou-se à realidade, verificando que “os caipiras eram barrigudos e preguiçosos por motivo de doenças”
O amarelão ou ancilostomose , causada por um parasito (Ancylostoma duodenale
adquirido por falta de higiene e saneamento básico.

                                               CLASSIFICAÇÃO

Reino:      Animalia
Filo:          Nematoda
Classe:    Secementea
Ordem:    Strongylida
Família:   Ancylostomatidae
Gênero:   Ancylostoma
Espécie: Ancylostoma duodenale  

Ciclo de vida do Ancylostoma
 

Nome comum da doença -   Amarelão (por causa da intensa anemia provocada). 
                  COMO SE ADQUIRE A DOENÇA  ANCILOSTOMOSE:
 Ingestão de água ou alimentos contaminados ou pela pele.   Os ovos do verme são liberados  no solo e viram larvas que passam a ser contaminantes em uma semana (filarióides). As larvas penetram pela pele do homem (andando descalços) ou pela boca (alimentos e água contaminados) e atingem a circulação linfática ou vasos sangüíneos, passando pelos pulmões (como o Ascaris e o Strongyloides), vão para a faringe e são novamente engolidos. Daí vão para o duodeno onde grudam (pelos dentes), sugam e se transformam nos vermes adultos. Levam de 5 a 7 semanas para provocarem sintomas.                
SINTOMAS DA ANCILOSTOMOSE: 
 As infecções leves podem ser assintomáticas. De acordo com a fase de desenvolvimento dos vermes podem apresentar sintomas cutâneos (coceira), pulmonares (tosse com catarro, febre e broncoespasmo), intestinais (dor de barriga, náuseas, queimação vômitos, diarréia e falta de apetite) e anemia  – principal sintoma manifestada através de palidez, muito cansaço, tontura sonolência e fraqueza.
Quando adulto o helminto  mede  de 0.8 a 1,3 cm.  De coloração avermelhados ,quando eliminados pelas fezes (por se limentarem de sangue). Têm uma cápsula bucal e 2 pares de dentes .
 TRATAMENTO:  A melhor maneira de evitar a ancilostomose se dá por meio de medidas sanitárias e de educação, tais como construir redes de saneamento básico, evitar contato direto com solos onde a incidência da doença é alta, lavar bem e com água potável frutas, verduras e legumes e beber somente água tratada.
 PREVENÇÃO: O uso de calçados, hábitos de higiene corporal, fervura da água a ser ingerida e cuidados na preparação de alimentos são medidas preventivas importantes.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: O diagnóstico laboratorial da ancilostomíase baseia-se no exame parasitológico de fezes com pesquisa de ovos do parasito. Os ovos de A.duodenales e de N. americanus morfologicamente são muito semelhantes, e, portanto, na rotina parasitológica não é necessário mencionar a espécie, diagnosticando apenas a presença de ovos de ancilostomídeos.
Jeca Tatu era um homem que carregava o parasito, personagem de Monteiro Lobato, que deixa a imagem caipira assumir o papel de garoto propaganda do laboratório paulista fundado por Cândido Fontoura. Monteiro explicava ao povo brasileiro, através de Jeca, em simples palavras, como o parasito se apropriava de seus corpos através da pele, qual era o ciclo e como os ovos eliminados pelas fezes permaneciam no solo e que para seu bem o caboclo não deveria mais utilizar as bananeiras para as suas necessidades fisiológicas. Deveriam sim andar calçado com suas botinas, para evitar a contaminação.
O livrinho que acompanhava a embalagem do biotônico contava com histórias feitas por Monteiro com o personagem Jeca Tatu Assim a história do Jeca Tatu viajou durante anos, e com o Biotônico Fontoura atravessou gerações, utilizado por muitas famílias, receitas que vinham das avós, para as mães, tal medicamento sempre foi indicado nos lares brasileiros, através, dos manuais, do radio e da televisão.

                    A HISTÓRIA DO JECA TATU


Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhinhos pálidos e tristes.
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atras da casa. Perto um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo.
Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só.
Todos que passavam por ali murmuravam. Que grandíssimo preguiçoso!
Jeca Tatu era tão fraco que quando ia lenhar vinha com um feixinho que parecia
brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme peso.
Por que não traz de uma vez um feixe grande? Perguntaram-lhe um dia.
Jeca Tatu coçou a barbicha rala e respondeu:
Não paga a pena.Tudo para ele não pagava a pena. Não pagava a pena consertar 
a casa, nem fazer uma horta, nem plantar arvores de fruta, nem remendar a roupa.
Só pagava a pena beber pinga.
Por que você bebe, Jeca? Diziam-lhe.
Bebo para esquecer.
Esquecer o quê?
Esquecer as desgraças da vida.
E os passantes murmuravam:
Além de vadio, bêbado...
Jeca possuía muitos alqueires de terra, mas não sabia aproveitá-la. Plantava todos os anos uma rocinha de milho, outra de feijão, uns pés de abóbora e mais nada. Criava em redor da casa um ou outro porquinho e meia dúzia de galinhas. Mas o porco e as aves que cavassem a vida, porque Jeca não lhes dava o que comer. Por esse motivo o porquinho nunca engordava, e as galinhas punham poucos ovos.
Jeca possuía ainda um cachorro, o Brinquinho, magro e sarnento, mas bom companheiro e leal amigo.
Brinquinho vivia cheio de bernes no lombo e muito sofria com isso. Pois apesar dos ganidos do cachorro, Jeca não se lembrava de lhe tirar os bernes. Por que? Desânimo, preguiça...
As pessoas que viam aquilo franziam o nariz.
Que criatura imprestável! Não serve nem para tirar berne de cachorro...
Jeca só queria beber pinga e espichar-se ao sol no terreiro. Ali ficava horas, com o cachorrinho rente; cochilando. A vida que rodasse, o mato que crescesse na roça, a casa que caísse. Jeca não queria saber de nada. Trabalhar não era com ele.
Perto morava um italiano já bastante arranjado, mas que ainda assim trabalhava o dia inteiro. Por que Jeca não fazia o mesmo?
Quando lhe perguntavam isso, ele dizia:
Não paga a pena plantar. A formiga come tudo.
Mas como é que o seu vizinho italiano não tem formiga no sítio?
É que ele mata.
E porque você não faz o mesmo?
Jeca coçava a cabeça, cuspia por entre os dentes e vinha sempre com a mesma história:
Quá! Não paga a pena...
Além de preguiçoso, bêbado; e além de bebado, idiota, era o que todos diziam.
Um dia um doutor portou lá por causa da chuva e espantou-se de tanta miséria. Vendo o caboclo tão amarelo e chucro, resolveu examiná-lo.
Amigo Jeca, o que você tem é doença.
Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito que responde na cacunda.
Isso mesmo. Você sofre de anquilostomíase.
Anqui... o quê?
Sofre de amarelão, entende? Uma doença que muitos confundem com a maleita.
Essa tal maleita não é a sezão?
Isso mesmo. Maleita, sezão, febre palustre ou febre intermitente: tudo é a mesma coisa, está entendendo? A sezão também produz anemia, moleza e esse desânimo do amarelão; mas é diferente. Conhece-se a maleita pelo arrepio, ou calafrio que dá, pois é uma febre que vem sempre em horas certas e com muito suor. O que você tem é outra coisa. É amarelão.
O doutor receitou-se o remédio adequado; depois disse: "E trate de comprar um par de botinas e nunca mais me ande descalço nem beba pinga, ouviu?"
Ouvi, sim, senhor!
Pois é isso, rematou o doutor, tomando o chapéu. A chuva passou e vou-me embora. Faça o que mandei, que ficará forte, rijo e rico como o italiano. Na semana que vem estarei de volta.
Até por lá, sêo doutor!
Jeca ficou cismando. Não acreditava muito nas palavras da ciência, mas por fim resolveu comprar os remédios, e também um par de botinas ringideiras.
Nos primeiros dias foi um horror. Ele andava pisando em ovos. Mas acostumou-se, afinal...
A  vida de Jeca muda radicalmente. Ele se cura, volta a trabalhar, reduz a bebida, sua pequena plantação prospera e o trabalhador se torna um homem honrado pelas outras pessoas. A família Tatu agora só anda calçada e, portanto, saudável. Jeca também comprou botina para o cachorro, vacas, bois , etc.
                                         Monteiro Lobato

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