O quero-quero (Vanellus chilensis) é ave símbolo do Rio Grande do Sul |
Era
uma vez um pássaro que vivia na floresta e não andava nada satisfeito com sua
vida. Ele não sabia por que, mas todas as coisas que ele queria não davam
certo. Ele era muito agitado e só sabia dizer “quero” para tudo e para todos.
Sempre cantava muito alto e no seu canto somente se entendia a palavra “quero”.
Quando entravam os outros pássaros, ele não sabia de que se tratava o assunto e
ia logo gritando “quero”. Um dia ele achou que ninguém era amigo dele, e que
todos queriam o seu mal. Ficou muito triste e saiu a andar pela floresta
chorando muito. Mesmo chorando sozinho pela floresta gritava bem alto seu canto
“quero”. Do alto de uma árvore estava o professor Coruja que, vendo aquele
pássaro gritando tão alto e chorando muito, não se aguentou e desceu até o
chão.
–
O que acontece com você, pobre pássaro? Você quer ajuda? Perguntou o professor
Coruja.
–
Quero. Respondeu o pássaro chorão.
– Por que
você grita tão alto? Você quer um amigo para conversar? Quer?
– Quero.
– Você quer
parar de chorar e ficar alegre?
– Quero.
– Você quer
sentar um pouco aqui perto da minha casa para conversarmos? Perguntava o
professor Coruja, curioso pelas respostas do pássaro.
– Quero. Mais
uma vez respondeu o pássaro.
O professor
Coruja então parou e pensou: “Nossa, esse pássaro só sabe falar uma palavra e
para tudo diz quero. Será que ele não sabe dizer outra coisa? Vou perguntar a
ele o que realmente quer quem sabe com isso ele pare de cantar”.
– Pássaro, o
que você quer?
– Quero.
Respondeu o pássaro.
Então o
professor Coruja novamente se surpreendeu com a resposta e disse ao pássaro:
– Meu bom
pássaro, você não pode simplesmente querer as coisas. Para querer e obter algo
na vida é preciso mais. Sempre precisamos ter duas vezes o querer. Você já
pensou nisso?
Assim o
pássaro que até então só gritava, olhou para o professor Coruja, parou de
chorar e pela primeira vez se dispôs a escutar alguém.
– Quero
entender isso, professor Coruja, disse o pássaro com brilho nos seus olhinhos.
– É muito simples
– disse o professor Coruja. Para vivermos bem e felizes, precisamos querer duas
vezes. Querer as coisas boas para nós, mas também querer as coisas boas para os
outros que convivem conosco. Todos nós queremos respeito e, para sermos
respeitados, precisamos respeitar os outros, ou seja, todos nós queremos ser
amados, mas, para sermos amados, precisamos amar os nossos semelhantes. Com ar
mais feliz o pássaro começou a entender o que acontecia e disse:
– Explique
mais, professor Coruja.
– Veja, todos
nós queremos proteção, não é verdade? Mas para termos proteção precisamos
proteger. Nós fazemos isto quando cuidamos das coisas dos outros, então eles
também cuidarão das nossas coisas. Se quisermos ter saúde, então precisamos
também querer nos cuidar, querer nos alimentar bem e querer praticar esportes e
querer dizer não.
– Como assim?
– perguntou o pássaro, que nunca havia visto alguém falar em não querer.
– Sim,
pássaro, às vezes é preciso não querer. Se você quer saúde, você não pode
querer ser guloso, preguiçoso e, principalmente, você não pode querer drogas,
como cigarro, a bebida e outras porcarias que só estragam a nossa saúde e a
saúde dos outros.
– Ah! Agora
entendi. O que realmente quero é ser feliz.
– E você deve
querer ser feliz, falou o professor Coruja. Mas para querermos ser feliz é
preciso também querer fazer os outros felizes. Quando fazemos os outros
felizes, somos felizes também. E foi então que o pássaro alegremente disse:
–
Quero-quero, quero-quero.
Despediu-se
do professor Coruja com grande alegria e retornou para o campo onde morava. Até
hoje esse pássaro chamado “quero-quero” vive alegremente nos campos chamando a
atenção de todos com seu canto.
–
Quero-quero, quero-quero…
Dizem que seu
canto é para lembrar a todos que escutarem que é preciso querer duas vezes;
querer o bem para si, mas também para os outros.
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